quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Carta enviado pelo professor Adriano

Carta enviada pelo professor Adriano aos professores e coordenadoria, após sua demissão nessa terça feira. Queremos deixar claro que, a publicação do texto não expressa nossa opinião pessoal sobre o assunto.

Caríssimos,
Foi um dia muito triste da minha vida esta terça feira dia 1º. de dezembro, - claro que por estar deixando o Izabela depois de 21 anos de trabalho como professor, lugar em que cresci, aprendi a ser professor e arquiteto com tantas pessoas fantásticas que conheci e com as quais pude compartilhar este imenso aprender, mas principalmente pela forma como fui demitido.

E fui demitido pela primeira vez na minha vida.

Claro que um dia sairia, iria dar aulas em outras instituições,e não há nenhum problema com isto, como fui convidado e dei aulas em várias outras escolas, como a PUC em diversos cursos de pós graduação, montando o curso da UNA e reinventando o jeito de fazer arquitetura no UNILESTE no Vale do Aço, por sete fantásticos anos, e sendo aprovado no ano passado na UFMG, tudo graças e graças mesmo a toda a história e pessoas que o Izabela me proporcionou. Agradeço imensamente a todos que fizeram esta Escola de Arquitetura.

Agradeço imensamente à Lila que traduzia minhas primeiras tentativas de falas para os alunos, ao Carlos Noronha tão genial, ao Padinha, ao Modesto que me fez chefe de departamento de projetos do Izabela tão menino ainda e que cumpri por três gestões, ao Bahia tão emocionado e emocionante, ao Sérgio Machado pelos tantos embates e discordâncias ferrenhas, à Marilda, tão dura com os alunos e tão competente, ao Rodrigo Meniconi, ao Ulisses e à Hilda, ao mestre Zé Abílio, à Regina que topou diversas viagens malucas comigo e com os alunos, ao Renato que como meu diretor que segurou diversas pisadas na bola que eu dei, ao querido FonFon - que aulas divertidamente fantásticas!, ao João Comunicação que se esforçou muitas vezes para entender e ser cúmplice de minhas propostas pedgógicas, ao Tito, ao reitor Professor Panisset, como aprendi negociar na vida com este homem, negociando dinheiro para o vencedor do concurso do projeto do bolo de 50 anos do saudoso arquiteto Éolo Maia e, ainda depois, ingredientes e uma doceira para fazer o bolo. (o Eolo veio, chorou, e lançamos um jornal crítico à obra do Eolo com projetos dos alunos e projetos dele: chamado “Eolo o rei dos Ventos e os outros ares”), professor Panisset (que lia cuidadosamente cada edição e nunca censurou nada) e o Renato que bancou durante 11 edições o nosso fantástico e polêmico jornal ERR ( “o arquiteto adoecido”, “o arquiteto descarnado”, “o arquiteto ajoujado”, etc.) enviado para várias Universidades do Brasil e elogiado até em Portugal, editado por mim e pelo então aluno Breno (professor Panisset chegou a entregar para o ministro da educação em Brasília, Cristovan Buarque, o número “a escola falha” da trilogia dos ERR falhos) o Clécio, a Fávia Brasil, o Manoel e a Iracema companheiros de QU e tantos outros...

...e saíamos animadíssimos todos depois das aulas para tomar cerveja no Minas Tênis Clube e conversar sobre arquitetura e o nosso curso do Izabela, - até os garçons nos colocarem para fora.

Como me disse no meu último dia a coordenadora do curso professora Raquel: “os tempos são outros”. Fico me perguntando que tempos são estes..., me lembro da querida mestre arquiteta D. Lina Bo Bardi que apontava “uma ‘intellgentzia’ tecnocrática, que esvaziou, com sua falência, a racionalidade posta contra a ‘emocionalidade’, num fetichismo de modelos abstratos que encara como iguais o mundo das cifras e o mundo dos homens”, - e isto dito à quase 30 anos atrás em Tempos de Grossura: o Design no Impasse.

Hoje tenho aprendido muito com outros e novos companheiros, (alguns foram meus ex alunos), Monique que virou mais que sócia, mais que amiga e que se apavorava quando eu expunha e contava os nossos casos com os clientes para os alunos, com a sabedoria do Célio e as longas caminhadas e conversas depois da aula, com a grandeza do Rocio que soube entender e aceitar as imensas e tantas diferenças nos nossos modos de fazer e pensar, com o Marcelo e uma tentativa heróica de fazer um atelier no 1º. primeiro semestre dos calouros, completamente diferente de tudo que já havíamos experimentado, com o Paulo que me disse que os seus melhores projetos duraram 15 minutos, com a Karine, com a Paula, com o ranzinza do Fred,....

Não quero crer que como disse a professora Raquel que “os tempos são outros” e “não temos mais tempo” para isso. Não a conheço como pessoa e não é nada pessoal o que escrevo, - ela não se fez conhecer nestes anos de coordenadora, nem aos professores nem aos alunos que até hoje reclamam não saber quem é a coordenadora do curso, e que quando ‘precisam’ falar com ela é tanta a dificuldade que desistem e que nunca foram recebidos nem no 1º. dia de aula com um boas vindas, - eu mesmo nunca tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente e quando a procurei e ou escrevi nunca havia muito tempo e as respostas , sempre foram muito burocráticas. Mas como não a conheço talvez ela seja vítima de algum ‘sistema’ da qual ela faça parte.

Já que não havia tempo para conversar também no dia da minha demissão, pois o que eu tentava saber, entender ou conversar... “não vem ao caso”, eu disse para a coordenadora e para alguns dos membros da coordenação que lá estavam que eu então escreveria uma carta e enviaria para eles e para os outros professores.

E assim o faço. Depois de 21 anos construindo junto esta escola de arquitetura, tendo orientado 48 projetos finais de graduação, algumas pesquisas de iniciação, organizado e feito tantas e tantas viagens de trabalho com os alunos (Ouro Preto, São Paulo, 9 vezes para Tiradentes, fregueses do Zé Renato e da Beth e de seus mais deliciosos cafés da manhã na Pousada da Terra, 5 vezes para Cataguases, e como não esquecer do ato antropofágico feito com o grande arquiteto e professor Augustin de Tugny, um ritual de chegada para o arquiteto francês em sua primeira escola de arquitetura no Brasil) e para tantos lugares, inventado e organizado festas (não posso deixar de lembrar da ‘discoteca do chacrinha’, fazendo tantos professores pagarem micos homéricos no show de calouros para arrecadar tintas para o projeto de um aluno que pintaria com as crianças da favela um muro de 3 kms. na Favela do Canão), desenvolvido e coordenado, com a Monique, por 3 anos o projeto QU, em nossa pequena sede, reformada por nós em parceria com a prefeitura de Nova Lima, e que possibilitou a 36 alunos experiências fantásticas de aprendizado (e que muitos deles ainda hoje trabalham em diversas outras prefeituras com princípios de projeto que construímos ali. Fora a amizade e a troca que com muitos dura até hoje).

Hoje, na minha tristeza e sozinho em casa, chorando pelas boas lembranças que me vieram todas ao mesmo tempo, sinto o direito e o dever de falar e de lembrar cada uma destas histórias..., e assim compartilhá-las com vocês, pois não temos tido muito espaço mais para isso.

Não falo isto por vaidade ou para me gabar do que fiz, mas creio que são estas pequenas rugosidades, estas pequenas histórias guardadas na memória que fazem a história de uma instituição, - como creio que cada um dos que se envolveu e se dedicou ao Izabela têm tantas histórias memoráveis como estas e eu adoraria sentarmos todos para contarmos e ouvi-las jutos, e lembrarmos dos nossos alunos e amigos que se foram.

Eu me orgulho muito do que fiz e vivi aqui no Izabela com cada um.

E eu escrevo como educador, arquiteto e um apaixonado pela arquitetura, e cada vez mais ciente da importância desta velha, gorda, e pachorrenta amiga e amada para cada um de nós e para o nosso planeta nos dias de hoje. Escrevo por estar aqui e não querer sair do Izabela assim, - pois aqui é/foi a minha casa, é/foi a minha escola, aqui eu conheci pessoas fantásticas para a minha vida, namorei, casei, tive um filho e mais um tanto de coisas. Escrevo por uma prática de educação que eu acredito, por uma Escola de Arquitetura com maiúsculo, para meus alunos e todos os ex-alunos que tive, para meus colegas de profissão, para os meus quatro filhos.

Andava triste sim no Izabela, como muitos me abordaram, me angustiava muitas vezes ver esta minha escola, a minha Escola de Arquitetura hoje assim tão sem uma proposta, sem diálogo entre os professores, sem uma coordenação que propusesse ou discutisse um projeto pedagógico. Ver meus alunos em aulas inaugurais promovidas pela coordenação sem nenhuma consulta aos professores, assistindo profissional que faz 70% dos projetos de seu escritório de graça para captar 30% posteriormente, desvalorizando e reduzindo assim o que se paga por fora para um arquiteto: apenas 0,28% do valor da obra que ele projetou, monopolizando e praticamente impossibilitando o acesso dos novos arquitetos ao mercado, ou o arquiteto que faz lojas e casas para a mais alta elite econômica da cidade e cobra um absurdo por isto.., - não dei conta de me calar, - disse não e escrevi na época uma carta endereçada a coordenação do curso (que apresento aqui em anexo e como também a resposta dada pela professora coordenadora e pelo reitor) perguntando que proposta pedagógica, que arquiteto e que arquitetura queríamos ‘vender’ para os nossos alunos.

Recebi um justo puxão de orelhas do nosso reitor, dizendo que o lugar da escola é o lugar para a fala de todos.

Compreendi, entendi e concordei.

E propus que estas falas se fizessem numa mesa aberta, no chão, na grama debaixo da árvore do pátio, em um debate. Escrevi e convidei todos os membros da coordenação para então iniciarmos esta escuta de todos, para a grama, para debaixo da árvore do pátio e promovi semanalmente com os meus alunos a escuta de diversos arquitetos sobre o seu trabalho, o seu prazer em trabalhar, se eram felizes, como ganhavam dinheiro, como viviam.

Foram mais de 50 profissionais que voluntariamente aceitaram o nosso convite, sem nada receber, e se sentaram em nosso jardim, - sensacionais e emocionantes depoimentos! Da coordenação veio a Karine, veio Tito, veio a Ângela em dias diferentes e falaram do arquiteto que eram. Infelizmente a coordenadora professora Raquel nem respondeu ao nosso chamado e nós nem ficamos sabendo se ela é ou não feliz em ser arquiteta. Talvez ela “não tivesse tempo” ou isto “não vem ao caso”.

Daquelas aulas inaugurais tinha ficado apenas o desconforto de ver um Izabela hoje tão pulsante, tão novo, com tantas pessoas que antes não tinham acesso à universidade, que não podiam freqüentar o Izabela, vindas de bairros mais distantes, nossos colegas bem vindos do Haiti, de Kosovo (fantástico conhecê-los e aprender tanto com suas histórias), lugares com tantas dificuldades, pobreza, cheia de sonhos, escutando, do alto do palco no auditório, sem chance de escutar um outro lado, sem debate, aquela figura/imagem de arquiteto assim iluminada, tão rica e distante.

Me lembro de quando o atual reitor chegou e falou de uma escola aberta aos negros (tínhamos pouquíssimos no Izabela até então), aberta às diferenças, aos travestis (veja o que o reitor falou: olhando para nós professores e perguntou se haviam negros, estrangeiros ou travestis entre nós e que isto seria bem vindo, e nós todos com aquela cara pálida de classe média branca), aberta aos estrangeiros.

Quando os muros da escola ficaram baixinhos, as catracas e as câmeras de vigilância sumiram, lembro-me que participei de uma ‘calourada’, de uma festa que a muito eu não via no Izabela. Terminamos a noite fechando a Rua da Bahia, anunciando a novidade e pedindo um trocado para comprar mais uma cerveja, pois ninguém mais tinha um tostão.

Acreditei que era uma outra escola, me animei muito em ver aquilo pela primeira vez no Izabela.

Mas a escola de arquitetura se mostrava a mais fechada, a mais ensimesmada, a mais autista. Justo uma das mais antigas da instituição, justo a de arquitetura que deveria abrigar e abrir suas portas para todas as outras, chamá-las para compartilhar projetos e trocar conhecimentos. Ir para fora dos muros agora baixinhos, para a rua, para a cidade.

Propor parcerias, ofertar disciplinas, receber outras.....

Neste semestre, na semana de arquitetura, diante da programação oficial da coordenação da escola, “Classificados”, alguns alunos me procuram, fruto de muitas conversas sobre arquitetura, e sentiram falta da presença e da fala de muitos ‘desclassificados’ deste mercado de arquitetura que tratava a semana. Organizamos juntos uma programação, que os alunos chamaram de “pirata”. Convidei junto com os alunos a turma das Brigadas Populares e moradores de alguns assentamentos e fizemos no jardim um debate fantástico. Quisemos chamar outras pessoas e multiplicar a semana com outras visões o que não foi bem visto pela coordenação. Alunos foram chamados à atenção, boatos estranhos circularam, ameaças, coordenação nervosa, reuniões nervosas...., sinceramente não entendi porque. A melhor coisa que poderia acontecer em uma semana de arquitetura em uma escola seria ver alunos e professores espontaneamente querendo produzir coisas para somar à programação oficial.

Antes, na aula inaugural do semestre a coordenadora do curso já havia dado sinais da sua ordem disciplinar e de sua tolerância às diferenças. Quando depois da palestra fantástica da professora Monique, começamos um debate sobre arquitetura e formação do arquiteto e o que poderíamos fazer na escola por isto, e quando os alunos mais queriam falar e entravam no debate, rompida a timidez do auditório, a professora Raquel interrompeu a fala dos alunos e disse que deveríamos sair do auditório às 21 horas e que não poderíamos ficar mais. Logo em seguida perguntei ao funcionário responsável pelo auditório se havia alguma coisa marcada para depois e ele me disse que não e que poderíamos ficar até as 22:30 horas. Mas a professora Raquel já ‘convidava’ todos para saírem, agradecia a palestrante e encerrava a seção. Tão poucas oportunidades tínhamos de reunir nossos alunos e discutir sobre os nossos desejos, o que poderíamos querer e o que fazer...., não, não podíamos, era “deselegante com a palestrante”. Pois a palestra falava disto, fazia-nos pensar, querer, desejar, mudar....

Na minha tristeza com o ambiente fechado da escola de arquitetura do Izabela, com a claustrofobia acadêmica produzida (e são muitos os professores que reclamam todos os dias disto na porta da escola), comecei a ir cada vez mais para a rua com os alunos, visitar a cidade, as coisas que acontecem, o que foi e é ótimo também.

Só neste 2o. semestre de 2009 fui com os alunos à Serraria Souza Pinto ao recém inaugurado espaço cultural 104 tecidos, à loja do Ronaldo Fraga projeto do Paulo, à livraria Scriptum meu projeto, à pça Raul Soares reformada,aos projetos novos para a pça da Liberdade (conversei com o Max e a Marta arquitetos responsáveis pela restauração da Secretaria da Fazenda e muito meus amigos e consegui estágio para 8 alunos meus do Izabela que me disseram se interessar por restauro), ao edifício da Rainha da Sucata, ao edifício Casa Blanca, à Escola de Arquitetura da UFMG, ao festival de dança FID, ao MIP de performances, ao TATO de teatro de objetos, ao Fórum DOC de cinema documentário etnográfico, ao Museu Inimá de Paula, à exposição do Le Corbusier, no Museu do Museu, à exposição do Vic Muniz...., e mais outras como parte de uma das minha disciplinas. Além dos vários profissionais, arquitetos, psicanalistas, artistas, restauradores, que eu trouxe ao Izabela para conversar com os meus alunos.

Neste semestre 5 turmas (minha e de outros professores) diferentes vieram à minha casa aqui no JK e apresentei para eles o edifício do Niemeyer.

Neste semestre apresentei em pequenas palestras expositivas 3 vezes meus projetos no Izabela de casas baratas/alternativas, casa postes duplo T, palafita, de eucalipto, de placas da Ghetalfilm, para meus alunos e de outras disciplinas.

Neste ano dei 4 oficinas de marcenaria, duas na PUC e duas na Federal, todas gratuitas, e convidei e tive o prazer de ter a participação de alunos meus do Izabela nestas atividades.

Neste ano propus, nas poucas aberturas que tive de propor alguma coisa, 5 diferentes disciplinas de tópicos especiais com uma oficina de marcenaria (que ficou impossível pela falta do laboratório, Marcelo me sugeriu fazer no Campus Nova Lima mas ficava muito fora de mão)

Enviei semana passada para a coordenação da arquitetura e para a de pós graduação uma proposta de curso: “DESIGN DE PROJETOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL”. (deu muito trabalho montar)

Sempre que fui chamado pela coordenação trabalhei e apresentei propostas, mesmo sem receber nenhum retorno sobre elas. Tendo inclusive participado e trabalhado por 2 meses intensos na montagem do currículo que hoje praticamos, escrevendo ementas, redigindo propostas, ajustando, reescrevendo, etc.

Ajudei e participei com o Paulo da oficina de infláveis no sábado de manhã inclusive trazendo 2 dos meus filhos para a escola, o André de 5 e o Lucas de 24 para participar. Mais alunos meus da UFMG e da Engenharia Ambiental da FUMEC.

Neste semestre propus e me dispus a organizar uma exposição, um debate com todos os alunos da escola e uma maratona de projetos, e apresentar com os alunos premiados no recente concurso de habitação populares 2 casas minhas premiadas em concursos da Caixa Econômica Federal para Alternativas de Moradia no Brasil. Proposta que encaminhei para a coordenação não tive nenhuma resposta, mas fui procurado pelo equipe dos alunos premiados que adoraram a idéia.

Neste semestre propus apresentar no Izabela o trabalho que fui convido a apresentar na Bienal da Coréia representando a arquitetura brasileira com mais nove arquitetos onde os Srs. oficiais marceneiro, serralheiro, e pedreiro, onde os corpos de anos de trabalho do Sr. Vicente, Sr Clenones e Sr. Miro, que fazem comigo a nossa arquitetura foram os meus painéis apresentados .

Também sem nenhuma resposta da coordenação.

Foi um semestre muito cheio.

Perguntei o porquê da minha demissão e a professora Raquel disse que havia reclamações na ouvidoria de alguns atrasos, e que já haviam acontecido outras vezes, e algumas ausências, mas de novo, “isto não vinha ao caso” e que eu assinasse a carta de demissão. Realmente faltei algumas poucas vezes este semestre por problemas que às vezes ocorrem com qualquer um. Disse que alguns alunos reclamaram que eu não fazia chamada toda aula...., e só. É incrível que todos os meus alunos fizeram todos os trabalhos das minhas disciplinas e fizeram muito bem, alguns até muito mais do que foi pedido. Participei de bancas deles em disciplinas de projeto (de outros professores) e pude constatar que desenvolveram bem nos projetos questões que discutimos teoricamente

Não tive nenhuma reclamação direta de nenhum aluno sobre nada este semestre e vamos fechar bem as disciplinas.

Acho que o papel de uma coordenação se há alguma reclamação deveria ser chamar o professor e comunicá-lo o quanto antes. Isto também não ocorreu por parte da coordenação. Perguntei sobre isto e eles disseram que preferem contornar as coisas por eles, alguns alunos são problemáticos, etc.

Fui chamado atenção em uma época em que precisei viajar a trabalho para Salvador uma única vez anteriormente e a muito tempo atrás quando o Glauco ainda era professor da escola.

Fui sim algumas vezes sim desestimulado e preocupado para a escola e dava preguiça de chegar lá. A escola de arquitetura com sua falta de proposta me desanima sim.

Somos jogados como professores cada semestre para uma disciplina, em horários diferentes, sem saber nada antes, com quem vamos dar aula, muitas vezes com redução de carga horária ou situações que não se pode nem saber porquê, nada é claro, ninguém diz saber muito bem nada, tudo extremamente burocratizado, no semestre seguinte já não estamos mais na disciplina..., tudo só ‘racionalidade’ e ‘mundo dos números e das cifras’ como diz d. Lina.

Sei que às vezes a minha proposta pedagógica pessoal é meio anárquica. Faço algumas coisas que não são tão curriculares, dou aulas na rua, debaixo da árvore do pátio, sentado na grama vou visitar outros lugares, levo alunas para a sala de outros professores, atendo alunos de outros ateliers, levo alunos para minha casa..., mas, depois de 21 anos dando aulas nunca tive reclamações sobre isto, pelo contrário muitos gostam muito e tenho amigos até hoje dos vários anos que dei aula. Eles me procuram sempre quando têm dúvidas profissionais.

Tive pouquíssimos problemas com alunos também, sendo que o único que me lembro, foi com uma aluna a poucos semestres e tentei contornar com toda a disposição com a professora Raquel e Sandra.

Mas nunca deixei de entregar meus diários em dia no final de cada semestre e nunca tive problemas com as secretarias.

Mas acho um tanto absurdo que as duas últimas reuniões que tivemos, das únicas com a coordenação neste ano, onde além da distribuição burocrática do papel de cada um ficou-se exemplificando e discutindo como controlar os alunos, fazendo chamada no início e no final da aula, etc. As duas reuniões, uma em cada semestre a mesma discussão.

Curiosamente recebi da professora Ângela neste mesmo dia da minha demissão, um texto incrível que o reitor pediu para me entregar também. Ele mesmo já havia falado antes comigo rapidamente no pátio. Um texto sobre os piratas que transcrevo aqui uma pequena parte:

Pirates’ relationship to black sailors was peculiar. On the one hand, pirates’ attitudes toward blacks don’t appear to be different from their lawful contemporaries’ attitudes towards them. Pirates took slaves, held slaves, and sold slaves. On the other hand, some pirates display significantly more tolerant behavior toward blacks. Upward of a quarter of the average pirate crew may have been black. Many of these sailors were former slaves and at least some of them were treated on equal terms with white sailors in the pirate crews they sailed with.

They had equal voting rights in pirates’ democracy and likely received an equal share of pirates’ plunder. This is especially remarkable since, on the surface, pirates had nothing holding them back from enslaving black sailors they captured-bondsmen or free.

Infelizmente algumas rainhas da Inglaterra, nos seus tronos distantes, não suportam os negros, nem nunca vão entender a democracia dos piratas. Deus salve a rainha!

Eu me preocupo com a ‘minha’ escola de arquitetura, com o projeto de escola que é compartilhado com os alunos e com os arquitetos que estamos formando.

E também agradeço muito, pois foi aqui e é com dinheiro que recebi pelo meu trabalho aqui no Izabela que paguei e pago os planos de saúde, as escolas e as coisas que demandam um filho, dos meus 4 filhos. E é para eles que eu também escrevo tudo isto, pois espero que eles também cheguem um dia a uma universidade e eu sinto que sou e sou responsável pela escola que estou deixando para eles.

Aos professores da Escola de Arquitetura, lutem pela escola de vocês e pela futura escola de seus filhos.

E agora como professor da escola de arquitetura da UFMG, uma escola pública, queria dizer que aquele espaço esta e estará aberto para todos. Serão sempre bem vindos lá. E digam para os estudantes do Izabela que desejarem, podem sempre ir assistir as minhas aulas lá que me farão muito feliz, - as portas da sala de aula estarão sempre abertas.... e podem chegar um pouquinho atrasados e nem precisam responder chamada porque não é o controle da chamada que garante uma boa aula nem uma boa formação.

Abraços a todos,

Adriano.
Inté,
nos encontramos por aí, e estou a disposição,

- inclusive para a aula inaugural do ano que vem que o Marcelo, um dos alunos da equipe que foi premiado com a proposta de alternativa de casa em Recife me chamaram hoje para apresentar junto, minhas casinhas experimentais.