segunda-feira, 28 de março de 2011

Entrevista de 2007 de Souto Moura

Procurando coisas sobre o ganhador do Pritzker achei no Blog ArqSite esse trecho de uma entrevista que ele concedeu em 2007. O arquiteto tem opiniões bastante controversas sobre sustentabilidade e o que ela representa hoje para a arquitetura. Assim que encontrar a entrevista completa posto aqui. Por enquanto, algumas fotos de projetos do arquiteto.

Atualização: link para entrevista completa
http://www.vivercidades.org.br/publique_222/web/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1285&sid=19

Entrevista Eduardo Souto de Moura

Numa entrevista publicada pelo site VIVERCIDADES Souto de Moura revela suas opiniões polêmicas sobre alguns temas relevantes como a sustentabilidade e arelação com o lugar. Algumas de suas opiniões são para fazer pensar, e podem mudar os paradigmas de como tratamos estas duas questões com conceitos coletivamente enraizados, mas que nem sempre sao verdadeiros.

Um dos principais pontos da entrevista é sua crítica sobre a moda atual de se falar em sustentabilidade na arquitetura. Na opinião de Souto de Moura a sustentabilidade não pode ser tratada como um objetivo final da arquitetura. Não se pode pensar um edifício como objetivo único de ser sustentatável. A arquitetura envolve muito mais fatores importantes, e a sustentabilidade seria somente uma obrigação fundamental do edifício, mas não definidora do seu partido, assim como acessibilidade, conforto térmico, etc.

Outro ponto é a relação com o lugar, a famosa arquitetura vernacular. Segundo o mito tradicional a melhor forma de se trabalhar a relação com a cultura local é usar as técnicas construtivas e os materiais locais. Mas, atualmente o principal motivo para definição de um sistema construtivo e de materiais de acabamento é o custo final. E nem sempre as técnicas e materiais locais conseguem competir em preço com materiais industrializados. Cabe então ao arquiteto procurar meios de reproduzir a tradição local com outras referências, utilizando materiais e cores similares e utilizando referências espaciais simbolicas da tradição.

Segue abaixo alguns trechos da entrevista:

Moura: Agora mesmo, comecei a construir um 'centro cultural' dedicado à obra do poeta, Miguel Torga, próximo ao Douro. Queria trabalhar com a pedra local, a ardósia [pizarra], mas ela era cara. Considerei, então, utilizar uma lajota [prefabricado] negra – como a ardósia –, concreto negro ou, até, uma cerâmica cinza prateada. Mas, no final, o que nos faz escolher entre todas as opções possíveis é o preço. A tradição, que considerava 'lógico' trabalhar com os materiais locais, desapareceu. Hoje, a pedra local pode custar o dobro de um material similar, importado da China. E a 'atmosfera' local pode-se conseguir, do mesmo modo, com materiais similares que não sejam autóctones. Assim, a questão dos 'materiais locais' foi desmistificada.

Zabalbeascoa: Quer dizer então que os materiais que 'falam a língua local' são uma enganação ?

Moura: Não há nada mais dispendioso que a 'ecologia'. Somente os suíços podem ser 'ecológicos'. Qualquer um que ali construa um edifício é obrigado a instalar um sistema de tratamento e reciclagem das águas servidas de banho. Mas, preparar um edifício para acumular as águas servidas, bombeá-las, tratá-las e recicla-las, é muito pouco sustentável, pois consome uma quantidade de energia brutal. Não faz sentido ! Este tipo de preocupação só se pode ter na Suíça.

Zabalbeascoa: Quer dizer, então, que o Sr. acha que a 'sustentabilidade' é uma questão de gente rica ?

Moura: Não, é um problema dos maus arquitetos. Estes se preocupam sempre com temas secundários. Dizem coisas do tipo: "a Arquitetura é Sociologia, Linguagem, Semântica, Semiótica...". Inventaram a 'arquitetura inteligente' – como se o Partenón fosse estúpido –, e agora, a última moda é a 'arquitetura sustentável'. Tudo isso são variantes [complejos] da má Arquitetura. A Arquitetura não tem que ser 'sustentável'. A Arquitetura, para ser boa, já o é, implicitamente, sustentável. Nunca haverá uma boa arquitetura... que seja estúpida ! Um edifício em cujo interior as pessoas morram de calor, por mais elegante que seja, será sempre um fracasso. A preocupação com a 'sustentabilidade' denota, apenas, mediocridade. Não se pode elogiar um edifício por ser 'sustentável'. Seria como elogia-lo por ficar de pé !

Museu Paula Rêgo, em Cascais, e suas pirâmides vermelhas

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Centro de Arte Contemporânea Graça Moraes, em Bragança


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